v. 23 n. 01 (2023): Temporis(ação)

No volume 23, número 01, de 2023, trazemos a segunda parte do dossiê Raça, gênero e sexualidades no espaço do sagrado. A capa desse número é um recorte de fotografia histórica da Cidade de Goiás. Em destaque, estão meninas que brincam no rio Vermelho enquanto suas mães trabalhadoras lavam a sujeira da roupa daqueles que podem pagar por esse serviço. No registro original, o fotógrafo escolheu como elemento central o Rio Vermelho, correnteza abaixo. Nos cantos marginais de seu registro, vemos trabalhadores urbanos em seus diferentes ofícios. Na margem esquerda, os vendedores de lenha, conduzindo seus animais carregados. Na outra margem (do rio e da fotografia) vemos mulheres lavadeiras com seus lençóis quarando ao sol. Junto delas, suas crianças brincando e aprendendo o futuro ofício. O fotógrafo foca deliberadamente nos elementos naturais (rio) e nos arquitetônicos (casario, ponte) da cidade, mas a presença do trabalhador urbano e empobrecido se impõe, garantindo humanização naquele retrato (mesmo que à revelia do recorte/enquadramento inicial). Não temos dados da autoria, nem de datação cronológica da fotografia. Contudo, certamente, a imagem foi produzida após o ano de 1918, porque vemos nela estacionado no Hospital São Pedro, no lado direito da imagem, um automóvel. A historiografia registra no ano de 1918 a entrada do primeiro automóvel em território goiano (Cunha, 2004).