ETNIA INY-KARAJÁ DURANTE A DITADURA MILITAR
PROJETO DE ESQUECIMENTO
Palavras-chave:
Ditadura Civil-Militar, Esquecimento, Iny¬-KarajáResumo
Na História do Brasil, o desenvolvimento capitalista está profundamente atrelado ao sacrifício de direitos indígenas em face aos interesses políticos e econômicos, no qual determinados períodos históricos, como a colonização, a Marcha para o Oeste e a Ditadura Civil-Militar, representam os principais eventos que marcam a devastação dos territórios indígenas. Nas regiões mais centrais, a escassez de fontes documentais e a falta de profundidade dos documentos existentes impõem um “esquecimento” sistematizado das populações indígenas da memória goiana, a partir da expansão da economia capitalista sobre os territórios das populações originárias. Os fatores relativos ao “desenvolvimento” e à “modernização” do Cerrado desconsideram a presença milenar das populações indígenas, bem como a sua relação com a terra, elemento central dessa disputa, em que de um lado a existência indígena é indissociável deste elemento e, de outro, historicamente, é um recurso de suma importância para a economia capitalista. Nesse sentido, ao atribuir ao indígena, e ao seu modo de vida tradicional, a condição de entrave ao “desenvolvimento”, retirando-o de seu território de forma organizada e articulada, o processo de “esquecimento” pode ser observado enquanto um projeto sistematizado de nulificação do protagonismo indígena na História de Goiás, ou, quando muito, considera-o apenas na história pretérita, portanto, um status a ser superado. O presente artigo, como parte dos estudos de uma dissertação de mestrado, busca apresentar os resultados parciais até então levantados acerca da história indígena Iny-Karajá em Goiás, a partir da premissa de um projeto sistemático de “esquecimento”, durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985).
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