OS CÍRCULOS DE MULHERES
REELABORANDO UM FEMININO NATURAL, SAGRADO E CÍCLICO
DOI:
https://doi.org/10.31668/rta.v23i02.12315Palavras-chave:
Círculos de Mulheres, Ciclicidade Feminina, Espiritualidade FemininaResumo
Na última década, no Brasil, percebemos a reelaboração da noção do feminino. Que feminino seria esse? Trato aqui dos chamados Círculos de Mulheres, que se caracterizam por representarem lugares seguros para a partilha e o fortalecimento pessoal de mulheres que buscam de forma coletiva uma reconexão consigo mesmas e com as demais. Como esses espaços tem colaborado para construir marcadores sociais sobre o feminino? Quais invenções e a partir de quais lugares esse feminino tem sido redescoberto e reconstruído? Nesse trabalho, buscamos entender, a partir de uma perspectiva qualitativa, como se deu essa reelaboração, a partir das reuniões dos Círculos, em Fortaleza, em 2019. Tomamos os Círculos de Mulheres como um Novo Movimento Religioso (NMR), sendo um momento em que a própria ideia de religião é reconfigurada, onde é possível promover a junção de várias referências do sagrado, numa espiritualidade fluida. Concluímos, por meio de observação participante, que diferente do que pautou o movimento feminista construtivista, nos círculos, o feminino é tematizado a partir de uma realocação do feminino no espaço da natureza, entendida como sagrada. Tal movimento caracteriza uma reinvenção tanto da natureza quanto da própria noção de feminino. A natureza elaborada nos círculos é uma natureza representada como poderosa e geradora de vida; que se manifesta a partir de uma perspectiva de tempo cíclico, com movimentos de vida-morte-vida. A associação entre natureza e feminino se liga também à capacidade criativa/geradora e à ciclicidade.
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