O PROFANO NO TERRITÓRIO SAGRADO DAS FESTAS RELIGIOSAS POPULARES NO TOCANTINS
DOI:
https://doi.org/10.31668/rta.v22i02.12307Palavras-chave:
Corpos, Sexualidades, Festas ReligiosasResumo
Festas populares religiosas como as de padroeiros, as Folias do Divino Espírito Santo ou as Procissões e Romarias são características marcantes da cultura em todo território brasileiro, carregadas de sentidos e significados simbólicos e míticos e apresentam duas dimensões, a sagrada e a profana, cada uma com características próprias. O objetivo deste artigo é analisar a dimensão profana destas festas populares no estado do Tocantins a partir dos corpos e de suas sexualidades, tendo como base de discussão a geografia cultural (CORRÊA, 2009; MERLEAU-PONTY, 1994) e das religiões (ROSENDAHL, 2003; ELIADE, 2004) e, para isso, optou-se por uma revisão bibliográfica sobre o tema e trabalhos de campo, conversas informais com participantes e atores das festas e a observação direta durante a realização das festas. O problema da pesquisa se baseia no questionamento sobre até que ponto o corpo e a sexualidade que nele está presente impedem a experiência de viver sem pudor e culpa a sexualidade no contexto das festas religiosas. Em diferentes momentos da festa, é através do corpo que se reverencia o santo, na contrição dos ritos e atos de devoção e fé e é, também, com o corpo que se experiência a sexualidade e o prazer através da música, da comida e da bebida. Conclui-se que as festas populares religiosas no Tocantins possuem uma forte presença de matriz africana, ganharam as ruas e os espaços públicos e, por meio das danças de cortejo afro-católicas, mesclaram-se às festividades da sociedade branca, ganhando visibilidade social. Apesar do sensualismo, do uso do corpo nas danças, do consumo de álcool e dos desejos impulsivos do corpo, ao adotarem os valores morais e religiosos da classe dominante, essas festividades foram valorizadas e tiveram reconhecimento social.
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