CONSIDERAÇÕES JURÍDICO-ANTROPOLÓGICAS ACERCA DA TESE DO MARCO TEMPORAL

O CASO DA TERRA INDÍGENA LIMÃO VERDE

Autores

Palavras-chave:

Tese do Marco Temporal, Território, Posse indígena, Constituição Federal de 1988

Resumo

O presente artigo buscará analisar o problema enfrentado pelos povos indígenas no tocante aos territórios ocupados em face da tese do Marco Temporal e seus impactos sobre os direitos consagrados no artigo 231 da Constituição Federal de 1988. Partindo-se da hipótese de que essa tese foi uma construção jurídica decorrente de diversos fatores que contribuíram para a sua adoção, este artigo irá analisar quais ocorrências podem ter sido determinantes para o estabelecimento desse paradigma. Nessa linha, indaga-se em que grau poderia a ciência antropológica contribuir para um melhor entendimento da situação descrita, com vistas a uma eventual desconstrução dessa tese. Diante desse panorama, a pesquisa permite concluir que um dos principais fatores para os conflitos entre indígenas e proprietários de terras reside na visão dicotômica sobre o significado de território, que associada à ineficácia das disposições constitucionais e à real situação jurídica dos povos indígenas no ordenamento jurídico, potencializam toda uma situação de insegurança jurídica e violência em diversos aspectos. A partir do método indutivo e da pesquisa bibliográfica, histórica, antropológica e jurisprudencial, o artigo buscará chegar ao resultado esperado.

Biografia do Autor

  • Marco Antonio Rodrigues, Ordem dos Advogados do Brasil/MS

    Advogado. Mestre em Direito pela UFMS (2019). Especialista em Teoria e Filosofia do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2015). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017). Licenciado em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002). Foi voluntário PIBIC CNPq 2014/15 e 2015/16. Integrante do Grupo de Pesquisa Científica do CNPq intitulado Antropologia, Direitos Humanos e Povos Tradicionais. Pesquisador da FUNDECT (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Pesquisa e Tecnologia no Estado de Mato Grosso do Sul).

  • Andréa Lúcia Cavararo Rodrigues, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

    Mestra em Antropologia Social - PPGAS pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Bolsista CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Especialista em Antropologia História dos Povos Indígenas pala Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (2017). Bacharela em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (2016).

  • Antonio Hilario Aguilera Urquiza, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

    Professor Associado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, orientador da pesquisa. Possui Doutorado em Antropologia pela Universidade de Salamanca/Espanha; atualmente é docente do curso de Ciências Sociais, da Pós-Graduação em Direitos Humanos da UFMS e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (UFMS). Bolsista CNPq (PQ2).

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Publicado

2023-05-28

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Seção

Artigos - Dossiê Temático

Como Citar

CONSIDERAÇÕES JURÍDICO-ANTROPOLÓGICAS ACERCA DA TESE DO MARCO TEMPORAL: O CASO DA TERRA INDÍGENA LIMÃO VERDE. (2023). ReDiS - Revista De Direito Socioambiental (UEG), 1(1), p. 54-78. //www.revista.ueg.br/index.php/redis/article/view/12935

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