QUANDO OS CASOS NOTICIADOS FAZEM PARTE DO PROBLEMA: UMA ANÁLISE SOBRE NARRATIVAS JORNALISTICAS E A CULPABILIZAÇÃO DAS MULHERES VITIMADAS EM GOIÁS DE 2016 A 2017
DOI:
https://doi.org/10.31668/atatot.v3i1.13116Palavras-chave:
Estupro, Gênero, Jornais., DirDireitos humanos das mulheresResumo
: Este artigo busca incitar o debate sobre as narrativas dos jornais diários de Goiânia, O Popular e Diário da Manhã, entre 2016 a 2017, com a culpabilização das vítimas de estupro, estabelecendo, para isso, uma relação entre elas no intuito de identificar se há uma naturalização da violência de gênero nas publicações dos veículos de comunicação. Desse modo, o objetivo geral desta pesquisa é realizar uma análise de conteúdo entre as narrativas dos dois jornais para observar se os jornalistas reproduzem narrativas que favorecem a manutenção da violência de gênero. Dessa forma, foram analisados o corpo da matéria, lide, título e retrancas. O Tema abordado nesse estudo possui perspectiva interdisciplinar que envolve as categorias de gênero e interseccionalidades étnico-raciais e de classe cuja análise restou prejudicada haja vista que foram deixados de lado nos casos noticiados. A metodologia utilizada foi a qualitativa e o método de Análise de Conteúdo (AC), da teórica Bardin (1977), que é um método importante para interpretar os resultados das narrativas dos jornais, ou seja, das palavras e termos, na busca dos sentidos encobertos que cooperam para a naturalização e propagação da violência de gênero, da cultura do estupro e da violação dos direitos humanos das mulheres, além da pesquisa bibliográfica. Ao final, a amostra analisada apontou como resultado que as narrativas dos jornais, no padrão em que são apresentadas, influenciam na culpabilização da vítima de estupro, o que nos permite dizer que esse padrão narrativo acaba por favorecer e reforçar a reprodução da desigualdade de gênero e naturalização da violência contra mulheres.
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