“PELES DE IMAGENS” DE DAVI KOPENAWA E BRUCE ALBERT: UM ATO DE DESOBEDIÊNCIA EPISTÊMICA RUMO A DECOLONIALIDADE DA HISTÓRIA INDÍGENA YANOMAMI
Palavras-chave:
Epistemologias indígenas, Interculturalidades, DecolonialidadeResumo
Analiso aqui o processo de escrita do livro A Queda do Céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, ou seja, o diálogo entre o indígena e o etnógrafo, problematizando a passagem do conhecimento oral do povo Yanomami para a escrita colaborativa e dialógica com Albert, destacando a ruptura da relação de subordinação do indígena na comunicação intercultural. Este livro, composto de relatos autobiográficos e reflexões xamânicas, está escrito na primeira pessoa, a pessoa que com vigor e inspiração carrega a voz de Davi Kopenawa. No entanto, essa primeira pessoa contém assumidamente um duplo “eu”. Esse livro nasceu de um projeto de colaboração situado na interseção, imprevisível e frágil, de dois universos culturais, por meio de um exercício violento de uma transposição de linguagem oral para o escrito. Essa análise busca problematizar a apropriação da narrativa escrita feita por Kopenawa para transmitir a localização geo-corpo-política de outras formas de pensar, conhecer e significar o mundo. Nesta direção, esse artigo se fundamenta nas perspectivas teóricas decoloniais latino-americanas. Essa adaptação por meio da pele de papel feita por Kopenawa e Albert num “pacto etnográfico”, tira o povo yanomami do passado cristalizado onde é situado pela visão eurocêntrica de mundo. Busco, assim, apontar como o livro A Queda do Céu se apresenta como uma desobediência epistêmica de ruptura possível da subalternização do conhecimento indígena, como um exercício de decolonialidade.