TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: IDENTIDADE, COMUNIDADE E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL NO TERRITÓRIO KALUNGA.

Autores

  • Juliana Moraes Franzão Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás - Campus Itumbiara

Palavras-chave:

Turismo de Base Comunitária; identidade étnica; comunidade quilombola; preservação ambiental.

Resumo

Este artigo analisa o Turismo de Base Comunitária (TBC) como uma ferramenta de resistência, valorização cultural e preservação ambiental no território quilombola Kalunga, localizado no estado de Goiás, Brasil. Adotou-se uma abordagem qualitativa com ênfase na observação participante, permitindo uma imersão nas dinâmicas culturais e socioambientais da comunidade. A pesquisa buscou compreender como a experiência turística, fundamentada na convivencialidade (Illich, 1976), promove o fortalecimento da identidade étnica, o reconhecimento dos saberes tradicionais e a sustentabilidade territorial. O estudo destaca que o turismo, quando conduzido pela própria comunidade, ultrapassa a lógica de consumo e assume um papel político e cultural, promovendo o respeito à diversidade e a valorização das práticas ancestrais quilombolas. O contato com espaços sagrados, sistemas agroecológicos, manifestações culturais e memórias coletivas evidencia o papel do TBC como estratégia de autonomia, enfrentamento ao racismo estrutural e resistência à grilagem de terras. Entre os principais atrativos valorizados pelos visitantes estão as cachoeiras, os rios, os festejos religiosos e culturais, que fortalecem a relação sagrada entre o povo Kalunga e a paisagem do Cerrado. A vivência com a comunidade revela um potencial educativo profundo, conectando os visitantes às lutas históricas e espirituais dos quilombolas. Embora não tenham sido realizadas oficinas ou produzidos materiais durante a visita, essa possibilidade permanece em aberto, caso a comunidade manifeste interesse futuro. Conclui-se que o TBC — alicerçado nos princípios da autodeterminação, do acolhimento ancestral e da sustentabilidade — pode contribuir significativamente para a consolidação de uma educação emancipatória, que se distancia da colonialidade do saber e do ser.

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Publicado

2025-10-10

Edição

Seção

ARTIGO ACADÊMICO

Como Citar

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: IDENTIDADE, COMUNIDADE E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL NO TERRITÓRIO KALUNGA. Revista Temporis[ação] (ISSN 2317-5516), [S. l.], v. 25, n. 02, p. 01–15, 2025. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/temporisacao/article/view/17018. Acesso em: 13 out. 2025.