O SABER ANCESTRAL DO QUILOMBO KALUNGA NO USO DE SOLOS FÉRTEIS PARA A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA E SUA RELAÇÃO COM O GEOTURISMO, MAPEAMENTO POR MÉTODOS GEOFÍSICOS E ROCHAS VULCÂNICAS MAGNÉTICAS

Autores

  • Marcelo Henrique Leão-Santos Universidade de Brasília UnB
  • Pedro Guilherme do Carmo Goncalves de Aguiar Universidade de Brasília UnB
  • Mateus Daia Leão Santos Universidade de Brasília UnB

Palavras-chave:

Quilombo Kalunga; geoturismo gastronômico de base comunitária; agricultura de subsistência; geofísica; rochas vulcânicas magnéticas.

Resumo

O principal objetivo deste trabalho foi correlacionar o saber ancestral da comunidade Kalunga sobre o mapeamento e uso de solos férteis para a agricultura de subsistência com a aplicação de dados geofísicos voltados à identificação espacial de corpos de rochas vulcânicas magnéticas, responsáveis pela formação desses solos. Os resultados visam contribuir para a rotatividade no uso do solo, o fortalecimento do geoturismo e do turismo gastronômico no Quilombo Kalunga, localizado na região de Cavalcante, Goiás. Sensores geofísicos aerotransportados permitiram detectar anomalias magnéticas associadas à presença de magnetita, mineral indicador de rochas vulcânicas cuja decomposição gera solos vermelhos e férteis, ideais para o plantio. Esses solos, menos comuns no Território Kalunga em comparação aos solos arenosos e pobres predominantes, foram mapeados por meio da correlação entre os dados magnéticos e sensores remotos de satélite. Algumas das áreas delimitadas já apresentam culturas agrícolas mantidas pelas comunidades locais, baseadas no conhecimento tradicional que identifica os melhores locais para o plantio. Os Kalungas praticam uma agricultura de subsistência com roças pontuais, geralmente menores que um hectare (dez mil metros quadrados), utilizando o solo por até quatro anos, seguido de um período de recuperação da fertilidade do solo de cerca de dez anos. Os resultados deste estudo são, portanto, cruciais para indicar novas áreas aptas à rotatividade do uso agrícola. Para o compartilhamento dos resultados, foi planejado um curso voltado à comunidade Kalunga, com o objetivo de ensinar suas técnicas de seleção de áreas férteis e promover o entendimento lúdico das geociências e da geofísica por meio de jogos de tabuleiro e experimentos magnéticos com ímãs. O trabalho promove a troca de conhecimentos entre o saber tradicional e as ciências geológicas, com o propósito de contribuir para a valorização da tradição culinária local e para o fortalecimento do geoturismo gastronômico de base comunitária — atividades hoje essenciais para a subsistência das comunidades Kalungas. O foco dos resultados está na associação entre geociências, geoturismo, geogastronomia e a identificação de novas áreas para o plantio sustentável.

Biografia do Autor

  • Marcelo Henrique Leão-Santos, Universidade de Brasília UnB

    Marcelo Henrique Leão-Santos é Graduado (2003) em Geologia pela Universidade de Brasília UnB, Mestre em Geologia pela UnB (2006) com área de concentração em Geofísica Aplicada, e Doutor em Geologia pela UnB, com período sanduíche na Colorado School of Mines, Department of Geophysics, nos EUA (2014). Possui especialização em processos mineralizantes e técnicas prospectivas pela Valer Educação (2008). Atualmente é Professor e Pesquisador da Universidade de Brasília, Faculdade de Planaltina, e do Programa de Pós-Graduação em Geociências Aplicadas e Geodinâmica, PPGGAG do Instituto de Geociências IG/UnB. Atuou como Professor e Pesquisador do Curso de Geologia da Universidade Federal de Goiás UFG (2016 a 2022). Ministra disciplinas de Sistemas Ecológicos, Geofísica, Geologia Ambiental, Hidrogeologia, Hidrogeofísica, Mapeamento Geológico, Prospecção Mineral e Geoturismo. Tem parceria em projetos de pesquisa e inovação com a Colorado School of Mines, onde trabalhou como Pesquisador Visitante (2011 a 2012). Atua em projetos na área ambiental e é voluntário na ONG Berço das Águas desde 2001, na região do Distrito Federal e Chapada dos Veadeiros. Coordena o projeto de pesquisa financiado pela FAPEG em Hidrogeologia e Hidrogeofísica aplicada a infiltração de água no Cerrado e áreas queimadas. Trabalhou com Prospecção Mineral na empresa Vale S.A. como Coordenador, Geofísico e Geólogo (2004 a 2015). Trabalha com pesquisa & desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias em parceria com universidades e empresas no Brasil, EUA, China e Canadá. Tem se dedicado ao uso de métodos elétricos e radar de penetração no solo GPR para pesquisa ambiental e de águas subterrâneas. Interesses de Pesquisa e Docência incluem Geologia e Geofísica aplicadas ao mapeamento geológico, ambiental, hidrogeologia, prospecção mineral, petrofísica, inversão de dados geofísicos, modelagem Geologia-Geofísica 2D-3D, machine learning, ensino em geociências e geoturismo. Membro da Society of Exploration Geophysicists SEG. Membro da Sociedade Brasileira de Geofísica SBGf.

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Publicado

2025-10-02

Edição

Seção

ARTIGO ACADÊMICO

Como Citar

O SABER ANCESTRAL DO QUILOMBO KALUNGA NO USO DE SOLOS FÉRTEIS PARA A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA E SUA RELAÇÃO COM O GEOTURISMO, MAPEAMENTO POR MÉTODOS GEOFÍSICOS E ROCHAS VULCÂNICAS MAGNÉTICAS. Revista Temporis[ação] (ISSN 2317-5516), [S. l.], v. 25, n. 02, p. 01–19, 2025. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/temporisacao/article/view/17017. Acesso em: 3 nov. 2025.