O SABER ANCESTRAL DO QUILOMBO KALUNGA NO USO DE SOLOS FÉRTEIS PARA A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA E SUA RELAÇÃO COM O GEOTURISMO, MAPEAMENTO POR MÉTODOS GEOFÍSICOS E ROCHAS VULCÂNICAS MAGNÉTICAS
Palavras-chave:
Quilombo Kalunga; geoturismo gastronômico de base comunitária; agricultura de subsistência; geofísica; rochas vulcânicas magnéticas.Resumo
O principal objetivo deste trabalho foi correlacionar o saber ancestral da comunidade Kalunga sobre o mapeamento e uso de solos férteis para a agricultura de subsistência com a aplicação de dados geofísicos voltados à identificação espacial de corpos de rochas vulcânicas magnéticas, responsáveis pela formação desses solos. Os resultados visam contribuir para a rotatividade no uso do solo, o fortalecimento do geoturismo e do turismo gastronômico no Quilombo Kalunga, localizado na região de Cavalcante, Goiás. Sensores geofísicos aerotransportados permitiram detectar anomalias magnéticas associadas à presença de magnetita, mineral indicador de rochas vulcânicas cuja decomposição gera solos vermelhos e férteis, ideais para o plantio. Esses solos, menos comuns no Território Kalunga em comparação aos solos arenosos e pobres predominantes, foram mapeados por meio da correlação entre os dados magnéticos e sensores remotos de satélite. Algumas das áreas delimitadas já apresentam culturas agrícolas mantidas pelas comunidades locais, baseadas no conhecimento tradicional que identifica os melhores locais para o plantio. Os Kalungas praticam uma agricultura de subsistência com roças pontuais, geralmente menores que um hectare (dez mil metros quadrados), utilizando o solo por até quatro anos, seguido de um período de recuperação da fertilidade do solo de cerca de dez anos. Os resultados deste estudo são, portanto, cruciais para indicar novas áreas aptas à rotatividade do uso agrícola. Para o compartilhamento dos resultados, foi planejado um curso voltado à comunidade Kalunga, com o objetivo de ensinar suas técnicas de seleção de áreas férteis e promover o entendimento lúdico das geociências e da geofísica por meio de jogos de tabuleiro e experimentos magnéticos com ímãs. O trabalho promove a troca de conhecimentos entre o saber tradicional e as ciências geológicas, com o propósito de contribuir para a valorização da tradição culinária local e para o fortalecimento do geoturismo gastronômico de base comunitária — atividades hoje essenciais para a subsistência das comunidades Kalungas. O foco dos resultados está na associação entre geociências, geoturismo, geogastronomia e a identificação de novas áreas para o plantio sustentável.
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