RACISMO E AS BARREIRAS DE ACESSO À SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS: UM ESTUDO DE REVISÃO NARRATIVA

Autores

  • Igo Gabriel dos Santos Ribeiro Universidade de Brasília

Palavras-chave:

saúde mental; barreiras de acesso; quilombolas; intervenções comunitárias; desigualdades em saúde.

Resumo

A saúde mental no Brasil passou por transformações importantes ao longo das três últimas décadas. Entretanto, há um conjunto de problemas a serem superados, dentre eles o vazio assistencial e as barreiras de acesso que afetam os territórios mais vulnerabilizados. A saúde mental para quilombolas tem alcançado pouco espaço nas agendas de pesquisa e na agenda política, o que demanda investigações que apontem caminhos e desvelem os estudos que efetivamente possam contribuir para a qualificação das políticas existentes e a criação de novas políticas que respondam às necessidades vocalizadas pelas comunidades quilombolas. Portanto, esse estudo buscou apresentar de maneira inicial uma revisão narrativa da literatura acerca do racismo e das barreiras de acesso à saúde, em especial à saúde mental, por povos quilombolas rurais, bem como a literatura dedicada aos princípios da pesquisa baseada na comunidade, pelos quais a pesquisa em curso se orienta. Para tanto, foi adotado o delineamento de pesquisa qualitativa, com o intuito de mapear e analisar criticamente as produções acadêmicas acerca da temática. Concluiu-se que as barreiras de acesso possuem contornos variados, os quais vão desde os aspectos de isolamento geográfico, ao racismo e aos modelos de cuidado baseados na racionalidade biomédica. Com isso, a promoção da saúde mental nas comunidades quilombolas exige, além do enfrentamento radical do racismo e das práticas discriminatórias, um reposicionamento ético, político e epistemológico das práticas em saúde, que reconheça as desigualdades históricas que afetam quilombolas, bem como o racismo estrutural como determinantes dos processos de saúde e adoecimento

Biografia do Autor

  • Igo Gabriel dos Santos Ribeiro, Universidade de Brasília

    Doutorando em Psicologia Clínica e Cultura junto ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília - IP/UnB, membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Prevenção e Promoção de Saúde no Ciclo de Vida (GEPPSVida) na mesma instituição. Psicólogo e Mestre em Psicologia e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista - UNESP. Atualmente é pesquisador associado ao PNUD, atuando junto ao Programa Justiça Plural do Conselho Nacional de Justiça. Atuou como pesquisador junto à Fiocruz Brasília. Atuou como Oficial de Projetos junto ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes UNODC (2020 - 2022). Atuou como Coordenador de pesquisa no Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares GAJOP (2018 - 2019) e como Pesquisador Júnior junto à Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA (2015-2017). Foi co-fundador e supervisor do grupo de atendimento psicológico destinado a estudantes negros e negras "Ressignificando Vivências Raciais - REVIRA" no Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos - CAEP/UnB (2017) e professor colaborador do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares - CEAM/ UnB (2020 - 2022). Possui experiência com pesquisa, docência e supervisão técnica nas áreas de Saúde Mental, Acesso à Justiça e Sistema Socioeducativo, com ênfase nos temas: direitos humanos; relações raciais e de gênero; proteção social; processos de vulnerabilidade e de exclusão social.

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Publicado

2025-10-06

Edição

Seção

ARTIGO ACADÊMICO

Como Citar

RACISMO E AS BARREIRAS DE ACESSO À SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS: UM ESTUDO DE REVISÃO NARRATIVA. Revista Temporis[ação] (ISSN 2317-5516), [S. l.], v. 25, n. 02, p. 01–15, 2025. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/temporisacao/article/view/17014. Acesso em: 3 nov. 2025.