MULHERES QUILOMBOLAS: REFLEXÕES IMPRESCRITAS SOBRE TRABALHO E PSICODINÂMICA EM UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Autores

  • Fabrício Gonçalves Ferreira Universidade de Brasília
  • Carla Antloga Universidade de Brasília
  • Cláudia de Oliveira Alves Universidade de Brasília

Palavras-chave:

Mulheres quilombolas; Território; Saúde; Psicodinâmica do trabalho.

Resumo

Este estudo discute as articulações entre mulheres quilombolas e trabalho, a partir de uma abordagem interseccional e decolonial. O objetivo foi investigar retratos do trabalho na vida de mulheres quilombolas apresentados em artigos, bem como compreender como essas mulheres enfrentam as imposições das racionalidades capitalistas, patriarcais e racistas. Trata-se de uma revisão sistemática de literatura, com foco nas intersecções vivenciadas por mulheres quilombolas no âmbito do trabalho e território. Os resultados apontam para a emergência de uma lógica de trabalho contracolonialista, que desafia modelos hegemônicos de produção e valoriza o território, o cuidado e a preservação dos vínculos comunitários. Conclui-se que reconhecer essas experiências é fundamental para a formulação de outros horizontes de civilidade que respeitem os direitos territoriais e promovam justiça social, saúde e dignidade.

Biografia do Autor

  • Fabrício Gonçalves Ferreira, Universidade de Brasília

    Psicólogo pela Universidade Federal de Catalão - UFCAT. Mestre em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília - UnB. Pós graduando em Direitos Humanos e Direitos de Pessoas Vulneráveis. Trabalhou como Técnico de Referência no Sistema Único de Assistência Social - SUAS e atualmente trabalha como Professor de Psicologia no Centro Universitário Unieuro e como Psicólogo Clínico. É membro da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) (ANPSINEP-DF); do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Relações Étnico-Raciais, Interseccionalidade e Saúde Mental (NEPRINS) e do Grupo de Extensão Nilè. Possui interesse por temáticas voltadas para o estudo de negritude, saúde de trabalhadores, políticas públicas e psicanálise.

  • Carla Antloga, Universidade de Brasília

    Psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, com atuação em psicodinâmica do trabalho e saúde mental. Desenvolve pesquisas e intervenções inovadoras em dois eixos: trabalho feminino e saúde mental no contexto laboral. Coordena o Grupo de Estudos em Psicodinâmica do Trabalho Feminino (PSITRAFEM) e é sócia-fundadora da Heurística Gestão por Evidências, startup vinculada à Universidade de Brasília.

  • Cláudia de Oliveira Alves, Universidade de Brasília

    Psicóloga. Doutora e Mestre em Psicologia Clínica e Cultura pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura (PPGPsiCC), da Universidade de Brasília (2021/2013). Especialista em Terapia Familiar e de Casais pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás/IEP (2016). Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (2010). Professora Adjunta no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e orientadora no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília (UnB). Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Relações Étnico-Raciais, Interseccionalidade e Saúde Mental (NEPRINS). Integra a Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores (ANPSINEP). Associada da Associação Brasileira de Pesquisa em Prevenção e Promoção em Saúde (BRAPEP) e membro do grupo diretor no biênio 2023-2024.Tem experiência na área de psicologia, com ênfase em psicologia clínica e psicologia comunitária, com atuação, principalmente, nos seguintes temas: Relações Étnico-Raciais; Interseccionalidade; Saúde Mental; Promoção de Saúde.

Referências

Alves Filho, A., Dimenstein, M., Belarmino, V. H., Leite, J. F., Dantas, C., & Macedo, J. P. (2020).

Efectos de la gestión de lo “Bolsa Família” en la vida cotidiana de mujeres quilombolas rurales.

Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 20(3), 1132–1140.

https://doi.org/10.17652/rpot/2020.3.19331

Bento, C. (2022). O pacto da branquitude. Companhia das letras.

Brasil. (2010). Lei nº. 12.288/2010, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial

[...]. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm

Brasil. (2017). Lei nº. 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT) [...] a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm

Bueno, M., & Macêdo, K. B. (2012). A clínica psicodinâmica do trabalho: De Dejours às pesquisas

brasileiras. ECOS-Estudos Contemporâneos da Subjetividade, 2(2), 306–318.

http://www.periodicoshumanas.uff.br/ecos/article/view/1010/723

Carneiro, S. (2011). Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. Selo Negro Edições.

Coelho, C. T., Oliveira, S. G., & Mello, F. E. (2023). Implicações no cuidado de um familiar doente:

Mulheres negras cuidadoras. Enfermería: Cuidados Humanizados, 12(2).

https://doi.org/10.22235/ech.v12i2.3131

Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas. CONAQ.

(2023). Racismo e violência contra quilombos no Brasil. Terra de Direitos.

Cruz, T. A. (2010). Mulheres da floresta do Vale do Guaporé e suas interações com o meio

ambiente. Revista Estudos Feministas, 18(3), 913–925. https://doi.org/10.1590/S0104-

026X2010000300016

Dejours, C. (2004). Addendum: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. In S. Lancman & L. I.

Sznelman (Orgs.), Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho (pp. 49–106).

Paralelo.

Dejours, C. (2017). Psicodinâmica do trabalho: Casos clínicos. Dublinense.

Dejours, C. (2022a). Trabalho vivo, v. 1: Sexualidade e trabalho. Editora Blucher.

Dejours, C. (2022b). Trabalho vivo, v. 2: Trabalho e emancipação. Editora Blucher.

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). (2023). As

dificuldades da população negra no mercado de trabalho.

https://www.dieese.org.br/boletimespecial/2023/conscienciaNegra2023.html

Dimenstein, M., Belarmino, V. H., Leite, J. F., Macedo, J. P. S., Silva, I. T., Dantas, C., & Alves Filho, A.

(2019). Consumo de alcohol en una comunidad quilombola del noreste brasilero. Quaderns de

Psicologia. International Journal Of Psychology, 21(1), e1479–e1479.

https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1479

Dimenstein, M., Macedo, J. P. S., Leite, J., Dantas, C., & Silva, M. P. R. D. (2017). Iniquidades sociais

e saúde mental no meio rural. Psico-USF, 22(3), 541–553. https://doi.org/10.1590/1413-

82712017220313

Dimenstein, M., Simoni, A. C. R., Macedo, J. P., Liberato, M. T. C., Silva, B. Í. D. B. D. M., Prado, C. L.

D. C., & Leão, M. V. A. S. (2022). Situação de saúde mental de comunidades tradicionais:

Marcadores sociais em análise. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 25(01),

162–186. http://dx.doi.org/10.1590/1415-4714.2022v25n1p162.9

Fanon, F. (2022). Os condenados da terra. Editora Schwarcz-Companhia das Letras.

Fernandes, S. L., Galindo, D. C. G., & Valencia, L. P. (2020). Identidade quilombola: Atuações no

cotidiano de mulheres quilombolas no agreste de Alagoas. Psicologia em Estudo, 25, e45031.

https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.45031

Ferreira, M. R. D. S., Eiterer, C. L., & Miranda, S. A. D. (2020). Raça e gênero na construção de

trajetórias de mulheres quilombolas. Revista Estudos Feministas, 28, e63121.

https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n363121

Freitas, L. G., & de Araújo, A. A. M. (2019). Trabalho, sofrimento e política: Um olhar decolonial. In

J. K. Monteiro, R. D. Moraes, L. G. F. L. D. Ghizoni & E. P. Facas (Orgs.), Trabalho que adoece:

Resistências teóricas e práticas (1. ed.; vol. 1; p. 29– 44). Editora Fi.

Galvão, T. F., & Pereira, M. G. (2014). Revisões sistemáticas da literatura: Passos para sua

elaboração. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 23(1), 183–184. https://doi.org/10.5123/S1679-

49742014000100018

Galvão, T. F., & Pereira, M. G. (2015a). Avaliação da qualidade da evidência de revisões

sistemáticas. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 24(1), 173–175. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-

49742015000100019

Galvão, T. F., & Pereira, M. G. (2015b). Redação, publicação e avaliação da qualidade da revisão

sistemática. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 24, 333–334. https://doi.org/10.5123/S1679-

49742015000200016

González, L. (1982). E a trabalhadora negra, cumé que fica? Mulherio, (7).

https://www.fcc.org.br/conteudosespeciais/mulherio/arquivo/II_7_1982menor.pdf

González, L. (1984). Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, 2(1),

223–244. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20-

%20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-

%20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf

González, L. (2020). Por um feminismo afro-latino-americano. Editora Schwarcz-Companhia das

Letras.

González, L., & Hasenbalg, C. (2022). Lugar de negro. Editora Schwarcz-Companhia das Letras.

Hirata, H. (2016). O trabalho de cuidado. Sur Revista Internacional de Direitos Humanos, 13, 53–64. Temporis(ação) | v 25 | n 2 |jul. / dez. | 2025 | DOI 10.31668/rta.v22i02.12136 20 https://sur.conectas.org/wp-content/uploads/2017/02/5-sur-24-por-helena-hirata.pdf

Hirata, H., & Kergoat, D. (2007). Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Cadernos de

Pesquisa, 37, 595–609. https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/344

hooks, b. (2023). Irmãs do Inhame: Mulheres negras e autorrecuperação. WMF Martins.

Hossein, C. S., & Pearson, M. (2023). Black feminists in the third sector: Here is why we choose to

use the term solidarity economy. The Review of Black Political Economy, 50(2), 222–248.

https://doi.org/10.1177/00346446221132319

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]. (2024). Censo 2022: Brasil possui 8.441

localidades quilombolas, 24% delas no Maranhão. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencianoticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/40704-censo-2022-brasil-possui-8-441-localidadesquilombolas-24-delas-nomaranhao#:~:text=Em%202022%20existiam%208.441%20localidades,1.228%20(14%2C55%25

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). (2022). Retrato das desigualdades de gênero e

raça. IPEA. https://www.ipea.gov.br/retrato/

Leite, J. F., Dimenstein, M., Belarmino, V. H., Macedo, J. P., Dantas, C., & Carvalho, A. V. (2021).

Participação política de mulheres quilombolas rurais no nordeste brasileiro. Athenea Digital:

Revista de Pensamiento e Investigación Social, 21(2). https://atheneadigital.net/article/view/v21-2-

leite/2019

Marin, R. A., & Maia, R. D. O. M. (2018). Gênero nas ações e resistências ao modelo de

desenvolvimento imposto em Barcarena, Pará. Cadernos Pagu, e185205.

https://doi.org/10.1590/18094449201800520005

Molinier, P. (2014). Cuidado, interseccionalidade e feminismo. Tempo Social, 26(1), 17–33.

https://doi.org/10.1590/S0103-20702014000100002

Moraes-Partelli, A. N., Coelho, M. P., & Freitas, P. D. S. S. (2021). Gravidez não planejada em

comunidades quilombolas: Percepção dos adolescentes. Texto & Contexto- Enfermagem, 30,e20200109. https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2020-0109

Moura, C. (1988a). Estratégia do imobilismo social contra o negro no mercado de trabalho.

Revista São Paulo em Perspectiva, 2(2), 44–46.

https://www.marxists.org/portugues/moura/ano/mes/imobilismo.pdf

Moura, C. (1988b). Sociologia do negro brasileiro. Editora Perspectiva SA.

Moura, C. (2001). A quilombagem como expressão de protesto radical. In C. Moura (Org.), Os

quilombos na dinâmica social do Brasil (pp. 103–115). Edufal.

Mussi, R., Rocha, S., & Alves, T. (2019). Transtornos mentais comuns em quilombolas baianos,

nordeste brasileiro. Psicologia, Saúde & Doenças, 20(3), 698–710.

Nascimento, A. (2020). O quilombismo. Perspectiva SA.

Nascimento, B. (2021). Uma história feita por mãos negras. Editora Schwarcz-Companhia das

Letras.

Nascimento, V. B. D., Arantes, A. C. V., & Carvalho, L. G. D. (2022). Vulnerabilidade e saúde de

mulheres quilombolas em uma área de mineração na Amazônia. Saúde e Sociedade, 31,

e210024pt. https://doi.org/10.1590/S0104-12902022210024pt

Page, M. J., McKenzie, J. E., Bossuyt, P. M., Boutron, I., Hoffmann, T. C., Mulrow, C. D.,Shamseer, L.,

Tetzlaff, J. M., Aki, E. A., Brennan, S. E., Chou, R., Glanville, J., Grimshaw, J. M., Hróbjartsson, A.,

Lalu, M. M., Li, T., Loder, E. W., Mayo-Wilson, E., McDonald, S., ... & Moher, D. (2022). A declaração

PRISMA 2020: Diretriz atualizada para relatar revisões sistemáticas. Revista Panamericana de Salud

Publica, 46, e112. https://doi.org/10.26633/RPSP.2022.112

Pereira, A. D. S., & Magalhães, L. (2022). A vida no quilombo: Trabalho, afeto e cuidado nas

palavras e imagens de mulheres quilombolas. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, 27,

e210788. https://doi.org/10.1590/interface.210788

Pereira, A. D. S., Allegretti, M., & Magalhães, L. (2022). “Nós, mulheres quilombolas, sabemos a dor

uma da outra”: Uma investigação sobre sororidade e ocupação. Cadernos Brasileiros de Terapia

Ocupacional, 30, e3318. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO254033181

Prates, L. A., Possati, A. B., Timm, M. S., Cremonese, L., Oliveira, G., & Ressel, L. B. (2018).

Significados atribuídos por mulheres quilombolas ao cuidado à saúde. Revista Pesquisa Cuidado

Fundamental, 10(3), 847–855. https://doi.org/10.9789/2175-5361.2018.v10i3.847-855

Riscado, J. L. D. S., Oliveira, M. A. B. D., & Brito, Â. M. B. B. D. (2010). Vivenciando o racismo e a

violência: Um estudo sobre as vulnerabilidades da mulher negra e a busca de prevenção do

HIV/aids em comunidades remanescentes de Quilombos, em Alagoas. Saúde e Sociedade, 19, 96–

108. https://doi.org/10.1590/S0104-12902010000600010

Santos, M. (2002). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção (Vol. 1). Edusp.

Santos, M. (2006). A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção (Vol. 1; 2. reimpr.).

Edusp.

Schall, B., Gonçalves, F. R., Valente, P. A., Rocha, M., Chaves, B. S., Porto, P., Moreira, E., &

Pimenta, D. N. (2022). Gênero e insegurança alimentar na pandemia de COVID-19 no Brasil: A fome

na voz das mulheres. Ciência & Saúde Coletiva, 27(11), 4145– 4154. https://doi.org/10.1590/1413-

812320222711.07502022

Valentim, R. P. F. (2016). A saúde entre o minoritário e o global: Questões identitárias entre

mulheres quilombolas. Psicologia e Saber Social, 5(1), 68–77.

https://doi.org/10.12957/psi.saber.soc.2016.18926

Vieira, C. E. C. (2022). Apropriações decoloniais das clínicas do trabalho. Psicologia em Revista, 28,

245–268.

Downloads

Publicado

2025-10-10

Edição

Seção

ARTIGO ACADÊMICO

Como Citar

MULHERES QUILOMBOLAS: REFLEXÕES IMPRESCRITAS SOBRE TRABALHO E PSICODINÂMICA EM UMA REVISÃO SISTEMÁTICA. Revista Temporis[ação] (ISSN 2317-5516), [S. l.], v. 25, n. 02, p. 01–24, 2025. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/temporisacao/article/view/16983. Acesso em: 13 out. 2025.