EPISTEMOLOGIAS INSURGENTES E AUTORIAS INDÍGENAS: UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NA OBRA “IDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO” DE AILTON KRENAK
Palavras-chave:
Literatura; Modernidade; Povos indígenas; Meio ambiente; Ecologia.Resumo
Na contemporaneidade, temos assistido ao surgimento de inúmeros autores indígenas cujos trabalhos e produções literárias e acadêmico-científicas buscam, essencialmente, denunciar as relações conflituosas entre o mundo natural e as sociedades humanas, especialmente a moderna, sob a perspectiva capitalista globalizada e ocidentalizada. Nesse cenário, destacam-se os trabalhos do escritor e indígena brasileiro Ailton Krenak, importante pensador e liderança política. Dessa forma, o presente trabalho propõe-se a analisar a posição do sujeito indígena em relação às semantizações dos tempos históricos, tendo como base a obra Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak. Filiado à teoria materialista do discurso, destacamos as representações ideológicas no pensamento do autor, que denunciam as relações contraditórias entre essa perspectiva moderna de humanidade, desassociada do mundo natural, e as consequências dessa ruptura, que resultam em degradação e expropriação da terra. Essa relação conflituosa também é responsável por colocar em risco a espécie humana, comprometendo a ecologia dos ecossistemas, a existência dos próprios recursos e das demais espécies. A perspectiva indígena, em sua constituição e manifestação histórica, é ressaltada como uma possibilidade alternativa para adiar o fim catastrófico do mundo.
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