DIÁRIO DE BORDO DAS VIAGENS DE TREM E BONDE:
OS RELATOS DE VIVÊNCIA DA CIDADE E DE CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE ESCRITA DE LIMA BARRETO EM DIÁRIO ÍNTIMO
Resumo
Resumo: O escritor Lima Barreto nasceu e vivou toda sua vida no Rio de Janeiro, mais exatamente nos bairros do subúrbio, tendo sido usuário dos meios de transporte público. Seus registros de viagem são um rico relato de sua experiência com o espaço urbano, além de configurarem o meio de transporte como lugar de encontro e reflexão. Desse modo, consideramos nessa perspectiva a literatura como transcrição da experiência com os lugares, sem desprezar, contudo, a literatura como crítica social e, ainda, a complexidade das relações entre os sujeitos. Analiso as passagens do que venho chamando de diário de bordo, fragmentos das anotações produzidas nos meios de transporte ou em função deles, contidas no livro Diário Íntimo, que reuniu relatos pessoais do escritor Lima Barreto entre 1900 e 1921. Tais anotações traduzem a intencionalidade de sua escrita, revelam pensamentos e impressões, ainda que de modo disperso, de seu projeto de vida enquanto escritor e cidadão consciente de seus limites e percalços, sobretudo da complexidade do espaço urbano em que vivia. Quanto as possibilidades interpretativas de um diário de anotações carregado de subjetividades para compor o entendimento sobre a experiência de Lima Barreto com o espaço, destaco a ideia de Levy (1997) de que não há regras científicas para encaixar a literatura. Nesse entendimento, podemos considerar que os registros de Lima Barreto são, ao mesmo tempo, as impressões do indivíduo (constituído no eu sujeito) e de um grupo social. Quem fala nesse diário é o intelectual, negro e morador do subúrbio.
Palavras-chave: Lima Barreto; subúrbio; geografia e literature.
Abstract: The writer Lima Barreto was born and lived all his life in Rio de Janeiro, more precisely in the suburbs, having been a user of public transportation. His travel records are a rich account of his experience with urban space, as well as setting the mode of transportation as a meeting place and reflection. Thus, in this perspective, we consider literature as a transcription of experience with places, without neglecting, however, literature as social criticism and also the complexity of relationships between subjects. I analyze the passages of what I have been calling the logbook, fragments of the annotations produced on or by means of transport, contained in the book Intimate Diary, which gathered personal accounts of the writer Lima Barreto between 1900 and 1921. These annotations reflect the intentionality of His writing reveals thoughts and impressions, albeit in a dispersed way, of his life project as a writer and citizen aware of his limits and mishaps, especially of the complexity of the urban space in which he lived. As for the interpretative possibilities of a subjectivity-laden diary to compose the understanding of Lima Barreto's experience with space, I highlight Levy's (1997) idea that there are no scientific rules to fit the literature. In this understanding, we can consider that Lima Barreto's records are, at the same time, the impressions of the individual (constituted in the subject self) and of a social group. Who speaks in this diary is the intellectual, black and resident of the suburbs.
Keywords: Lima Barreto; suburb; geography and literature.
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