A dupla face das águas, o sopro da argila: criação e aniquilamento, vida e morte em Avalovara e Brumadinho
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.5592422Resumo
Para o escritor pernambucano Osman Lins (1924 – 1978), a arte está imersa em seu tempo histórico, portando o necessário engajamento ante os dramas sociais e os grandes temas existenciais, alinhando, assim, representação a resistência – o que coincide com o entendimento assinalado por Antonio Candido de que o gesto literário enfeixa tempo, forma e conteúdo. Este artigo demarca a ambição capitalista desmedida somada ao recorrente desleixo governamental quanto às redes de proteção social nos episódios do crime ambiental e humanitário envolvendo o município mineiro de Brumadinho, extraídos da realidade brasileira recente. Em alinhamento a esse drama nacional, focalizo, assim, as situações narrativas que perpassam o romance Avalovara (1973), em especial os personagens Abel e Cecília, esta última entidade alegórica do tempo-memória, cujo corpo-mundo é habitado por velhos, doentes, enfermos, bêbados, ladrões, famintos, demarcando, desse modo, a desolação sociocultural e a deterioração ecológica, bem como a debilidade da frágil condição humana. Abordam-se ainda a exploração predatória do níquel e do ferro e o destino mineral de Minas Gerais no horizonte poético de Carlos Drummond de Andrade, além da releitura crítica por parte de José Miguel Wisnik, como modo de percepção alargada da realidade e do mundo.
Palavras-chave: Avalovara. Osman Lins. Brumadinho. Mineração. Carlos Drummond de Andrade.
Abstract: For the writer from Pernambuco Osman Lins (1924 - 1978), art intertwines with its historical time and is necessarily engaged in social dramas and major existential themes, thus aligning representation with resistance - which coincides with the understanding, stated by Antonio Candido, that the literary gesture embodies time, form and content. This article outlines the excessive capitalist ambition added to the recurrent governmental omission regarding the social protection networks in the recent episodes of environmental and humanitarian crimes involving the municipality of Brumadinho. In alignment with this national drama, I therefore focus on the narrative that permeates the novel Avalovara (1973), especially on the characters Abel and Cecilia. This last one is an allegorical entity of memory-time, whose body-world is inhabited by the old, the sick, the drunk and hungry, thieves, thus demarcating sociocultural desolation and ecological deterioration, as well as the frailty of the vulnerable human condition. It also addresses the predatory exploitation of nickel and iron and the mineral destiny of Minas Gerais in Carlos Drummond de Andrade’s poetic horizon, in addition to the critical reinterpretation by José Miguel Wisnik, as a way to expand the perception of reality and the world.
Keywords: Avalovara. Osman Lins. Brumadinho. Mining. Carlos Drummond de Andrade.
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