MEMÓRIA EM CAMADAS

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Palavras-chave:

Visualidade, Memória, Dobradura, Papel

Resumo

No final do ano de 2022, andando de carro à noite pelo centro de Goiânia, fui surpreendida pela visão do Grande Hotel iluminado com decoração natalina. O edifício na esquina da Avenida Goiás com a Rua 3 ganhou contornos brilhantes nas janelas e na porta, se destacando na paisagem tal qual os edifícios que são transformados em cenário de luzes às vésperas do Natal. Mas para além do brilho excessivo, me chamou a atenção a situação da sua fachada principal, com pixações por toda a extensão do pavimento térreo. As marcas em tinta spray estavam na parte inferior das paredes, de fácil alcance pela calçada, e acima das janelas, o que sugeria intervenções realizadas de maneira mais prolongada. O fato de um dos edifícios mais relevantes do conjunto arquitetônico tombado goianiense, um dos primeiros a ser construído na cidade, estar ao mesmo tempo pixado e iluminado despertou uma reflexão em torno das disputas por visibilidade no campo da memória, do patrimônio e da produção social da cidade. A cenografia oficial natalina não escondia as camadas de interferência expressas por meio de letras indecifráveis, que demarcavam presenças múltiplas, plurais, subversivas. E ainda: a opção de decorar com luzes festivas um prédio público em estado de suposto abandono revelava uma intrigante afirmação de coexistência temporal.

Biografia do Autor

  • Laila Beatriz Rocha Loddi, Universidade de Brasília; Universidade Estadual de Goiás

    Arquiteta e urbanista pela UFSC; Mestre em Arte e Cultura Visual pela UFG; Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás. Doutoranda PPG/FAU UnB.

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Publicado

2024-02-29