FORMAÇÃO CONTINUADA OU POLÍTICA DA DESCONTINUIDADE?
SILÊNCIOS SOBRE A CULTURA AFRICANA, AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA
DOI:
https://doi.org/10.31668/buildingtheway.v13i2.13892Resumo
A promulgação da Lei nº 10639 no ano de 2003 estabeleceu um marco legal, político e pedagógico no que se refere à História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Em 2008, com a Lei nº 11645, a inclusão da História e Cultura Indígena nos currículos tornou-se igualmente obrigatória. Desde então, estados e municípios têm elaborado orientações para a implementação das diferentes culturas nas diretrizes para o trabalho nas instituições escolares. Nesse viés, faz-se necessário manter e estimular os debates e pesquisas sobre diversas formas de exclusão praticadas em nossa sociedade e investir em formação continuada específica sobre o tema. Neste texto, analisamos e interpretamos discursividades materializadas no cronograma da formação continuada, de 2022, realizada em um município mineiro, para verificarmos como a presença/ausência da temática racial entre os temas pode desvelar efeitos de atravessamentos sobre o discurso da educação para as relações etnicorraciais. Recorremos aos autores Collares, Moysés e Geraldi (1999) para a elaboração do título e para as reflexões sobre descontinuidade, Gomes e Munanga (2003; 2008; 2012) para fundamentar nossas discussões sobre cultura e diferença, e aos conceitos da Análise de Discurso (AD) para análise do funcionamento discursivo. O movimento analítico de atravessar o efeito de transparência da linguagem e investir em sua opacidade desvelou a descontinuidade das políticas para a educação no município e o constante recomeçar delas. E revelou que as temáticas escolhidas para a formação podem não funcionar como elemento de reconstrução do imaginário dos professores e professoras sobre a importância cultural de negros e indígenas.