“UMA TARDE PLENA”, DE CLARICE LISPECTOR
CRISE DA NARRATIVA, CRISE DA EXPERIÊNCIA E O INDIVÍDUO FORTUITO DA MODERNIZAÇÃO CAPITALISTA NO BRASIL
Resumo
Partindo das reflexões analíticas formuladas por Walter Benjamin (1892-1940), Theodor Adorno (1903-1969) e Ferenc Fehér (1933-1994), procurou-se construir uma análise da narrativa “Uma tarde plena”, de Clarice Lispector (1920-1977). Explicita-se, incialmente, como essa narrativa, presente na coletânea Onde estivestes de noite (1974), problematiza “o caráter fortuito do indivíduo moderno” (FEHÉR, 1997) ao versar sobre a banalidade do cotidiano de personagens que estão dentro de um ônibus, seguindo para cumprir suas rotinas mecanicamente. Em seguida, focaliza-se os vários níveis entre os sentidos latente e manifesto da perspectiva diegética, no que se refere aos vínculos entre narrador, focalização e personagens, com o objetivo de investigar como os procedimentos artísticos do conto “Uma tarde plena” se articulam à desintegração da experiência, no contexto do declínio da subjetividade e das contradições do tempo livre implicados no capitalismo tardio, conforme os pressupostos dos filósofos Adorno e Benjamin.