A busca de outros sertões

Resumo

Nos estudos sobre a expansão portuguesa dos séculos XV e XVI tem assumido caráter preponderante a questão do mar, por isso que esta expansão é considerada sobretudo como ultramarina. Oblitera-se, entretanto, uma outra dimensão, a da busca de outros sertões, de outras terras, já que os sertões ibéricos estavam ocupados por Castela e outros reinos, e a única alternativa para os lusitanos era procurar terras, buscar outros sertões, no além-mar. A busca de outros sertões é assim o sujeito oculto da expansão ultramarina portuguesa, e teve no infante dom Henrique e em seu sobrinho, el-rei dom João II. os seus maiores incentivadores no século XV. As iniciativas do Infante r do Príncipe Perfeito possibilitaram que o conhecimento tradicional, de origem antiga e medieval, fosse atualizado pela experiência vivida dos lusos. Dessa forma, diversos exploradores e cronistas puseram-se a descrever esses outros sertões, suas terras, suas gentes e seus costumes. Tais descrições eram eivadas ainda de uma geografia imaginária, fruto mais do que se queria ver do que se via efetivamente, que possibilitava, por exemplo, o encurtamento das distâncias entre o Brasil e o Peru (o que reforçaria os indícios da presença de metais preciosos em território brasileiro), ou entre a costa e a contracosta da África (o que tornaria mais fácil cumprir um dos principais anelos dos portugueses naquele continente: a travessia entre as costas atlântica e índica). Essa geografia imaginária, em que se destacavam alguns tópicos como a busca do preste João e do Paraíso terreal, a existência de riquezas imensas escondidas no sertão e de um grande lago interior, que seria a fonte dos maiores rios (tópico este que remetia, também ao Paraíso terreal), tanto do continente africano quanto do americano, estendeu-se até bem entrado o século XVIII, quando começou a ser substituída por uma geografia iluminista, mais próxima da realidade e baseada em pressupostos mais científicos.