Bacchusia, a Terra do Carnaval

Resumo

No ano de 1640 foi publicada Utopia, obra homônima à de Thomas Morus composta por Jakob Bidermann, jesuíta alemão e inquisidor da Igreja Católica em Roma. O autor, membro ativo da cultura trentina, escreveu o texto em latim com o propósito didático de ensinar exemplo e moral aos estudantes do Colégio Jesuíta na cidade de Augsburg. A obra relata a viagem de três amigos para um mundo outro, um local imaginário chamado Utopia, onde os habitantes festejam um eterno Carnaval, o caos é institucionalizado, as regras da cultura estão suspensas, os cidadãos andam mascarados, e bebe-se e come-se em demasia. Os viajantes experimentam as terríveis consequências deste “mundo de cabeça para baixo”; descobrem então que o mundo real, se baseado nas virtudes e na moral cristã, e principalmente se guiado pela Igreja Católica, torna-se um lugar muito mais verdadeiro, tranquilo e belo de se viver. Em 1677 Andreas Hörl von Wattersdorf, de quem pouco se sabe, traduziu do latim para o alemão a obra de Bidermann e a publicou sob o título de Bacchusia oder Fastnachtland. A Terra do Carnaval é o local fictício, utópico, onde todos os prazeres e vícios são levados ao extremo. O autor e o tradutor ressaltam didaticamente os hábitos viciosos dos bacusianos, e têm a intenção de revelar ao leitor que o mundo real, se conduzido com a moral cristã e guiado pela Igreja Católica, torna-se um local muito melhor de se viver do que o utópico, onde a insegurança, o eterno Carnaval, o “mundo de cabeça para baixo” servem apenas para ampliar o caos, romper com o sagrado e fazer irromper o grotesco. A Utopia de Bidermann está, portanto, em oposição ao sentido de utopia dado por Morus, que cria um mundo invertido de paz, alegria, felicidade calma, prazer bem-medido e harmonia. Mas do mesmo modo que a Utopia de Morus, a Terra do Carnaval é um mundo outro que permite a aproximação com a cultura da Contrarreforma e a Alemanha do seu tempo.