O CAMPO DISCURSIVO DA HISTÓRIA DA LOUCURA
Resumo
O presente artigo defende a tese de que a obra de Michel Foucault de 1961, História da loucura, inaugurou um campo discursivo, uma herança do seu projeto historiográfico e filosófico. A ordem psiquiátrica, de 1977, de Robert Castel e Danação da norma, de 1978, organizada por Roberto Machado, inscreveram-se explicitamente nesse campo. A defesa da propositura é encaminhada por uma leitura (receptio) da obra de Foucault a privilegiar o projeto de fundo, enquanto ele abre a possibilidade de continuidade de uma linha de pesquisa e novas narrativas, o campo discursivo da história da loucura. Nesse esforço, leva-se em conta também o resto da obra do autor, destacadamente Vigiar e punir, para recolher, da história da vigilância disciplinar e da punição penal, elementos que esclarecem o projeto da história da loucura. Depois, procura-se aprofundar o que seria um campo discursivo e são discutidos os elementos de possível analogia ou de oposição com os campos discursivos da psicanálise e do marxismo. Por fim, apresentam-se as diferenças da história da loucura em relação à antipsiquiatria e à despsiquiatrização. Em todo o percurso, procura-se mostrar que a história da loucura não é uma disciplina, já que não é uma história da psiquiatria, e tem objetivos estratégicos diversos, para não dizer opostos, da nova disciplina chamada ‘filosofia da psiquiatria’.