O Eufemismo como modalização discursiva na enunciação jornalística dos supostos suicídios de Amy Winehouse e Kurt Cobain: biopoder contra o efeito Werther

Resumen

Esta pesquisa objetiva descrever, interpretar e analisar enunciados que circularam em mídia impressa sobre as mortes dos cantores Kurt Cobain e Amy Winehouse, vinculadas ao suicídio. Mobilizamos uma série enunciativa que demonstra uma regularidade no funcionamento discursivo da episteme suicídio, tabu duplo por ser atravessado por saberes relacionados ao atentado sobre a própria vida, polêmica que se adere ao deslocamento do biopoder, do governo de si e do outro para a manutenção da vida. Analisamos como funcionam as materialidades discursivas em relação à episteme suicídio e às emulações jornalísticas quanto à vida e à morte dos cantores já citados. Observamos os silenciamentos/apagamentos ou restrições da palavra suicídio, além dos recursos linguísticos de modalização discursiva como o eufemismo para suavizar o impacto de noticiar as mortes ocorridas por meio do tabu suicídio. Nosso aporte teórico-metodológico é baseado na Análise do Discurso de linha francesa, em autores como Foucault e Maingueneau. Como resultados, percebemos que a palavra suicídio é obliterada muitas vezes para o atendimento da ética jornalística em relação a uma possível contenção de um efeito suicida em cadeia (Efeito Werther), pois o suicídio de figuras icônicas, celebridades, poderia ser influência para outras mortes, especialmente de fãs e sujeitos emocionalmente instáveis, num contexto sócio-histórico contemporâneo repleto de patologias psíquicas como pânico, ansiedade generalizada e medo. As políticas públicas que se materializam discursivamente por meio de campanhas de preservação da vida, como Setembro Amarelo, com o estímulo aos atendimentos psiquiátricos e psicológicos, são normalizações das condutas dos corpos para o cuidado de si e do outro, adestrando-os para a permanência da vida, tornando-a saudável, em consonância à mecânica do biopoder.