ETNIA INY-KARAJÁ DURANTE A DITADURA MILITAR

PROJETO DE ESQUECIMENTO

Autores

  • Maria Eduarda Oliveira Universidade Estadual de Goiás , Universidad Estatal de Goiás , State University of Goiás
  • Poliene Soares dos Santos Bicalho Universidade Estadual de Goiás , Universidad Estatal de Goiás , State University of Goiás https://orcid.org/0000-0002-8324-8743 (não autenticado)

Palavras-chave:

Ditadura Civil-Militar, Esquecimento, Iny¬-Karajá

Resumo

Na História do Brasil, o desenvolvimento capitalista está profundamente atrelado ao sacrifício de direitos indígenas em face aos interesses políticos e econômicos, no qual determinados períodos históricos, como a colonização, a Marcha para o Oeste e a Ditadura Civil-Militar, representam os principais eventos que marcam a devastação dos territórios indígenas. Nas regiões mais centrais, a escassez de fontes documentais e a falta de profundidade dos documentos existentes impõem um “esquecimento” sistematizado das populações indígenas da memória goiana, a partir da expansão da economia capitalista sobre os territórios das populações originárias. Os fatores relativos ao “desenvolvimento” e à “modernização” do Cerrado desconsideram a presença milenar das populações indígenas, bem como a sua relação com a terra, elemento central dessa disputa, em que de um lado a existência indígena é indissociável deste elemento e, de outro, historicamente, é um recurso de suma importância para a economia capitalista. Nesse sentido, ao atribuir ao indígena, e ao seu modo de vida tradicional, a condição de entrave ao “desenvolvimento”, retirando-o de seu território de forma organizada e articulada, o processo de “esquecimento” pode ser observado enquanto um projeto sistematizado de nulificação do protagonismo indígena na História de Goiás, ou, quando muito, considera-o apenas na história pretérita, portanto, um status a ser superado. O presente artigo, como parte dos estudos de uma dissertação de mestrado, busca apresentar os resultados parciais até então levantados acerca da história indígena Iny­-Karajá em Goiás, a partir da premissa de um projeto sistemático de “esquecimento”, durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985).

Biografia do Autor

  • Maria Eduarda Oliveira, Universidade Estadual de Goiás , Universidad Estatal de Goiás, State University of Goiás

    Mestre em Ciências Humanas e Sociais pelo Programa de Pós-Graduação Territórios e Expressões Culturais do Cerrado da Universidade Estadual de Goiás (PPGTECCER/UEG); Licenciada em História pela Universidade Estadual de Goiás; Especialista em Ciências Humanas e Sociais e o Mundo do Trabalho pela Universidade Federal do Piauí. Email: me.eduardaoliv@gmail.com.

  • Poliene Soares dos Santos Bicalho, Universidade Estadual de Goiás, Universidad Estatal de Goiás, State University of Goiás

    Possui graduação em História pela Universidade Federal de Goiás (2000), mestrado em História pela Universidade Federal de Goiás (2003) e doutorado em História pela Universidade de Brasília (2010). Atualmente é professor titular da Universidade Estadual de Goiás e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Interdisciplinar em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Interdisciplinar, atuando principalmente nos seguintes temas: indígenas, movimento indígena, Cerrado, artes indígenas e Ditadura Civil-Militar e Indígenas. Líder do Grupo de Pesquisa SABERES, SOCIEDADE E NATUREZA NO CERRADO.

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Publicado

2024-11-09

Como Citar

ETNIA INY-KARAJÁ DURANTE A DITADURA MILITAR: PROJETO DE ESQUECIMENTO. (2024). ReDiS - Revista De Direito Socioambiental (UEG), 2(02), p. 47-63. http://www.revista.ueg.br/index.php/redis/article/view/15672